01 fev 2017 / Media & Publicações

RH Magazine - Entrevista a Sofia Calheiros: Qual é o óbvio que estamos a ignorar?

O desafio a que Sofia Calheiros se lançou com a nova empresa que lidera trouxe-lhe responsabilidades acrescidas com os clientes, parceiros de negócio e com o Mundo. Após muitos anos a liderar projetos de consultoria, coaching e formação em empresas de vários países e áreas de negócio, continua a questionar-se como pode todos os dias fazer a diferença. É por aqui que começamos esta conversa.

 

Estando a realidade em permanente mudança, como pode acrescentar valor nas soluções que cria com os seus clientes?

 

É curioso começarmos por aqui pois essa foi a nossa preocupação quando lançámos esta nova equipa ao Mundo. Perguntámos, para dentro e para fora, o que queríamos e a resposta foi simples: Inovar! Sabe aquele momento da vida em que percebemos que a cada dia atingimos, pessoal e profissionalmente a plenitude e podemos inovar sem limites? É aí que estamos hoje presentes na execução.

Criámos um programa cuja abordagem metodológica assenta numa visão sistémica da própria vida e que integra, on going, o conhecimento acelerado que nos vem da ciência e tecnologia, aborda as implicações filosóficas, políticas, sociais, económicas e ecológicas, alinhando ainda o bem-estar corporal, emocional e espiritual. Percebemos esta integração como óbvia, fator crítico de sucesso, para inovar na liderança, fundamental para lidar com os problemas complexos dos nossos dias. Com este expandir percebemos que este programa requereria uma nova atitude, um novo estar e conhecimento, equipas renovadas com forte experiência internacional e diversidade de backgrounds,
culturas, gerações e géneros.

 

Sabe uma coisa? Vemo-nos como uma metáfora dos nossos clientes (risos). Encontrámos em nós, também, os paradigmas das organizações que treinamos e fazemos mover para novos patamares de excelência. De facto e focando-nos no tema deste número da RHmagazine “Formação e Consultoria” surge-nos a questão:

 

Que soluções inovadoras estamos a apresentar ao mercado? Mas a grande questão é: quem as apresenta vive pessoalmente esse alinhamento? É para aí que temos de olhar… para as pessoas que vendem formação e consultoria. Conhecê-las bem.

 

Pode explicar-nos um pouco melhor?

 

Percebi, com a minha equipa, que tínhamos de sair de uma visão algo cartesiana e envolvermo-nos num novo pensamento. Um pensamento que se processa por meio de relações, padrões e contextos. Começámos a detetar, de forma recorrente nos nossos clientes, que, como aprendemos na escola, a solução está sempre no enunciado do problema. É aqui que atuamos de forma mais veemente… garantir que o cliente cria o seu enunciado e nele encontra a solução transformadora. Para isso é preciso ousar! Onde quero chegar? Precisamos nós também de assumir ousar e assumir uma posição. Como dizem no Brasil: “Ficar em cima do muro” não dá mais, não podemos fingir que não vemos, nem continuar alheados à espera que uma qualquer entidade abstrata avance. É tudo sobre Eu/Nós, estar(mos) presentes, agir(mos). Sabe…”Temos de descer do muro”… e “descer com tudo”!

 

Foi com a sua candidatura e credenciais que conseguiu trazer para Portugal a International Coach Federation da qual foi a 1ª Presidente, durante dois mandatos. Se vai “descer do muro” Sofia, dê-nos a sua opinião sobre quem pode ser coach.

 

Ok, ok, malandrice…Nem todos! Mesmo! No mundo atual, à lá limit, todos podem, se o escolherem, atuar como coaches mas ser coach só alguns serão. É algo que se vê em
todas as profissões… todos podem dar aulas mas ser professor só alguns. Todos podem correr… mas ser atletas? E isto é independente de certificações. Polémico? Óbvio, para mim.

 

Em Portugal é a pessoa com mais horas de coaching. Ainda não se falava de coaching quando a Sofia trouxe esta tendência. Que vantagens e barreiras isso criou para si no mercado?

 

Ser a primeira em algo só quer dizer que fui pioneira. Na verdade ser pioneira… quer dizer enfrentar barreiras imensas, fazer uma travessia do deserto… mas também descobrir tantas oportunidades quantas as barreiras. Acho que foi como comprar uma terra e nela teimosamente insistir em semear. A teimosia veio da certeza de que com o coaching iria criar valor para as organizações e para Portugal. Trabalhei que me fartei. Foi como criar uma segunda empresa. Só pensava “tenho de fazer acontecer” e trabalhava em várias frentes e com vozes contra, mesmo “dentro de casa”. As “vozes dentro de casa” diziam-me: só vais perder tempo, gastar a tua energia, só vais é criar concorrência. Mas dentro de mim uma voz dizia “é
por aqui!”. Vejo agora com prazer que consegui semear e multiplicar para tantos outros, curiosos e que gostam de deitar mãos à obra, que se juntaram no criar de oportunidades e agora levam para a frente o coaching com nobreza...e uns quantos a fazerem a coisa como amadores e sem se entregarem… Mas a vida é assim mesmo. Temos é de olhar para os que “fazem o bem”. Não é bem é O Bem.

As vantagens foram várias. Uma foi eu ser psicóloga, ter experiência corporativa e empresarial e mais que tudo foi ter a certeza do óbvio que estávamos a ignorar. Outra vantagem é, após dezenas de milhares de horas de coaching, perceber o quanto ainda estou no princípio. Mas, mais do que falar de coaching, que amo de paixão, e sabendo que tenho dos melhores coaches do mercado a trabalhar comigo, gostaria de falar do que agora me move… a nova abordagem onde coloco toda a minha energia.

 

Então, face a toda a sua experiência e à permanente vontade de inovar e construir novos paradigmas na gestão do talento, qual o caminho que a levou a este novo programa?

 

O caminho foi sobre Estar Presente. Começou muito em África, um lugar não óbvio para mim. Uma vivência única. Apaixonei-me pela sua gente. Só estando presente é que fui entendendo o que me era dado a aprender. Tanto me apaixonei que o destino me entregou um pedacinho do Menongue, em forma de menina hoje com 11 anos e comigo há quase 5…e que me ensinou a estar mais presente. Escolhi, mais uma vez, não ignorar o óbvio e fazer acontecer. No último ano o meu caminho foi sobre estar muito presente em tudo. Viajei muito, envolvi-me em projetos de liderança com diversos clientes, sobre os mais variados temas, um deles: Women Matter. Que levo como cruzada...nunca pensei (risos).

Estive presente a contribuir para novos designs e execução de projetos pela Europa e África… com muita aprendizagem sobre talento, liderança no feminino, Leading in Chaos, Leading Through Adversity, Innovation in Leadership e tudo na senda da transformação cultural que se pretende e acontecerá naturalmente. Estou agora a regressar de uma viagem, onde estive inserida num grupo de trabalho fantástico refletindo sobre inovação na liderança, e onde ficou claro que o caminho da inovação passa pela mudança de paradigmas.

Esta mudança tem de ser feita com alta participação de todos e com mobilização da inteligência coletiva. Estes serão os fatores chave para reconstruir culturas organizacionais abertas à sociedade, ao mundo e à vida. É aqui que o nosso novo programa se posiciona. Como referi, já nasceu, está em execução, tem nome, mas só será “batizado” lá para depois do verão. Estão todos convidados… (risos) Este programa tem por objetivo colocar Portugal no mapa. Bem sei que já lá estamos, e tão bem, mas podemos ficar melhor ainda. O programa tem uma novidade, está sempre em aberto, requer o contributo de todos, até dos concorrentes… Caramba, já é tempo de conseguirmos trabalhar em Consórcios cá dentro… só assim sairemos da nossa pequenez de “à beira mar plantados”… é adorável, mas se o nível da água sobe…(risos), Temos de ter mais caravelas no mar!

 

Que mensagem gostaria de deixar?

 

Que há urgência em pôr em causa quando não estamos a ter os resultados que desejamos. Que é necessário aceitar o risco e a possibilidade de erro inerente como parte de encontrar novas soluções, aprender rapidamente e seguir em frente. Que, como o mestre escultor que trabalha para obras perfeitas, temos de ter a coragem de “…retirar à pedra inicial o que não faz falta” e seguir esculpindo.E posso deixar uma pergunta para quem nos lê? Qual é o óbvio que está a ignorar?

 

ENTREVISTA DE: VANESSA HENRIQUES, RHmagazine
FOTOGRAFIA: NC Produções

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