Revista Human - It's All About... Elevar o Nível ao Invés de Apoiar!
Já refletiu sobre como pode escolher o ‘coach’ certa para si, quais os critérios relevantes? Já pediu para conhecer o ‘coach’, para «testar» as suas sompetências de ‘coaching’? Já recolheu referências e analisou o percurso académico e profissional do seu ‘coach’ potencial? Claro que sim, de uma forma ou de outra. E fê-lo porque é mesmo desafiante medir o cerne da questão: o que verdadeiramente faz a diferença no impacto de um processo de ‘coaching’, nos resultados alcançados pelo ‘coachee’?
Naturalmente há muitos fatores relevantes e, sem dúvida, a escolha do ‘coach’ é um fator-chave. Acreditamos que nesta escolha é importante ir além dos mínimos, pois ‘coaching’ é muito mais do que criar uma relação de confiança, muito mais do que ouvir sem julgar ou fazer perguntas poderosas. ‘Coaching’ que faz a diferença assenta na habilidade do ‘coach’ em desafiar, em elevar o nível, em promover o compromisso do ‘coachee’ com as suas maiores aspirações.
Um ‘coach’ que desafia, assegura que o seu ‘coachee’ estabelece objetivos fora da zona de conforto, objetivos corajosos … e não meramente objetivos SMART, que por definição do próprio acrónimo tão utilizado são objetivos alcançáveis e realistas, ou seja, «dentro da zona de conforto». A nossa história confirma que escolher perseguir objetivos corajosos faz toda a diferença. Ficam aqui umas frases famosas do presidente norte-americano John F. Kennedy para reforçar isso mesmo: «Nós escolhemos ir à Lua! … Nós escolhemos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque são difíceis; porque esse objetivo servirá para organizar e medir o melhor das nossas energias e habilidades, porque esse é o desafio que estamos dispostos a aceitar, aquele que não estamos dispostos a adiar, e aquele que pretendemos conquistar.»
O ‘coach’ que desafia não descansa com a definição de um objetivo corajoso. Esse ‘coach’ vai reforçar o desconforto sentido pelo ‘coachee’ através de ‘feedback’: não estamos a falar de ‘feedback’ 360 graus, recolhido sob a «proteção» de anonimato para ser mais «verdadeiro»; estamos a falar de ‘feedback’ dado pelo ‘coach’ em primeira mão – com base nas suas observações, na sua escuta – ‘feedback’ sobre o aqui e agora, sobre o que foi dito e não dito, ‘feedback’ honesto, difícil, direto e em tempo real, que tem a força para «quebrar» a relação, e que, no entanto, vai reforça-la, criando mais consciência, mais vontade, mais capacidade para mudar e agir. Como pais, agimos todos assim, na convicção de que os nossos filhos perceberão, mais tarde ou mais cedo, que uma resposta, uma regra, um incentivo ou um castigo fizeram toda a diferença no seu crescimento pessoal; e assim se reforçaram as ralações pessoal; e assim se reforçaram as relações com os seus progenitores.
Tudo isto poderia até ser dito por um ‘coach’ (de futebol) muito admirado em Portugal: José Mourinho – que se atreveu ir ainda mais longe quando afirmou: «I’m the Special One.” Certamente é uma afirmação que se pode julgar como «arrogante» ou «egocêntrica»; por outro lado, também é uma afirmação que explicita claramente que «as coisas acontecem por minha causa? (em vez de «as coisas acontecem-me»). Essa manifestação de uma autorresponsabilização distintiva cria tensão, essa tensão cria desconforto, esse desconforto liberta a energia necessária para o alcance de resultados excecionais. E um ‘coach’ que sente como sua responsabilidade de criar essa tensão, vai estimular a criatividade do seu ‘coachee’, fazendo toda a diferença.
Em resumo, se quer ir mesmo mais longe, não escolha o ‘coach’ que o faça sentir «confortável e apoiado», escolha o ‘coach’ que o desafia a elevar o nível, que o estimula com ‘feedback’ em primeira mão e que assume a responsabilidade para criar o nível de tensão certo para conseguir tudo aquilo que não quer adiar.
*Artigo publicado originalmente na Revista Human, edição Dezembro 2018
Anita Haensler /
Especialista em desenvolvimento e gestão estratégica, conta com uma carreira dedicada à formação e coaching de executivos e altos quadros de empresas multinacionais, que operam em ambientes multiculturais.